MarcosGouvea_GSeMD_ClienteSA.jpg

Analisando o Crédito por Administrador

Postando em 12/05/2014

Durante a recente transformação em que viveu o mercado brasileiro a renda, o emprego e a confiança do consumidor foram muito importantes, mas o crédito às pessoas físicas foi o fator fundamental para promover o aumento do consumo alavancando as vendas no varejo.

O crédito às pessoas físicas, segundo os dados do Banco Central, cresceu 189,3% no período de 12/2007 a 12/2013, saltando de R$ 432,4 bilhões para R$ 1251,3 bilhões, fazendo com que, comparativamente, esse volume que representava 4,1 % do PIB aumentasse para 7,1 %.

Ainda que essa expansão gerasse preocupações, em especial no sistema financeiro, os dados mais recentes mostram que o risco de explosão de uma bolha no país por conta desse incremento está afastado e os níveis atuais de inadimplência estejam em queda, segundo os dados do Banco Central.

Segundo esses dados a inadimplência dos devedores acima de 90 dias, pelos dados consolidados de todas as modalidades de pessoas físicas, coletados pelo Banco Central caiu de 5,9 % em Janeiro de 2012 para 4,3% em Março de 2014.

É sempre importante lembrar que, numa análise de mais longo prazo, a evolução do crédito consignado, que tem nível de risco e inadimplência muitos baixos, sugere cautela na análise de períodos pré e pós a expansão dessa modalidade, pois existem de fato diferenças significativas no comportamento entre as diversas modalidades oferecidas.

Na mesma direção deve ser destacado o forte crescimento no nível de endividamento das famílias que, de fato, saltou de 41,7% para 45,9% no período compreendido entre Dezembro 2011 e Fevereiro 2014, sempre em relação à renda recebida nos últimos 12 meses, como reflexo do aumento da oferta de crédito pelo varejo, bancos, financeiras e pelos agentes do sistema habitacional. Mas é importante considerar que nos últimos nove meses, se mantém praticamente estável, uma vez que em Agosto de 2013 representava 45,4%.

Vale também destacar que um dos principais fatores a justificar essa expansão é a expansão da modalidade imobiliária que vive nesse período forte evolução mas que tem um baixo risco pela garantia real do bem.

Especialmente no segundo semestre de 2012 e no primeiro semestre do ano passado, criou-se um cenário de forte preocupação que chegou até mesmo a repercutir na mídia internacional, sinalizando o risco de um iminente problema envolvendo o crescimento do crédito no Brasil que poderia fazer explodir uma bolha no setor, criando problemas generalizados. E esse fato criou motivos para revisão das taxas de juros ao consumo, explicadas como forma de compensação do aumento do risco.

 

Esse movimento obrigou os bancos oficiais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a ampliarem suas linhas de crédito aos consumidores, em diferentes modalidades a tal ponto que o crédito pessoa física dos bancos oficiais passou a ter percentual maior do que aquele feito através dos bancos privados, razão para que alguns analistas entendessem que isso poderia colocar em risco os ativos desses bancos. Não só isto. Houveram relevantes medidas que foram adotadas na análise e concessão do crédito através dos bancos privados que obrigaram os varejistas a reverem suas estratégias de crédito porque se deram conta do tamanho do arrocho praticado e seu impacto direto negativo nas vendas.

É preciso entender que o sistema de crédito ao consumo no Brasil pode ser apontado, globalmente, como um dos mais evoluídos pela simples razão que o mercado sempre dependeu demais dessa alternativa e se desenvolveu um elevado nível de conhecimento, informação, práticas, processos e instrumentos para gestão da análise, concessão e cobrança, tanto por parte do varejo, como das financeiras, bancos e os setores automobilístico e imobiliário.

Todo esse sistema opera com profissionais, ferramentas e bancos de dados dos mais sofisticados, apoiados por mecanismos avançados de monitoramento de comportamento e uso de modelos matemáticos e estatísticos de avaliação que determinam com rigor o nível de risco. O que não impediu que, por volúpia ou opção estratégica mais agressiva ou inconsequente, empresas fossem enganadas em suas avaliações, o que significou até mesmo seu desaparecimento como ocorreu no passado com Coroa-Brastel, Casa Centro e outras.

Da mesma forma como bancos fossem impactados diretamente por sua excessiva agressividade, criando sérios problemas, em especial no crédito ao setor automobilístico, como ocorreu mais recentemente, razão para venda de carteiras ou até mesmo instituições que, no entanto, não comprometeram ou abalaram o sistema financeiro brasileiro.

Dadas as características do mercado e sua estrutura socioeconômica, o crédito às pessoas físicas continuará a ser um instrumento fundamental na equação do consumo e do varejo e a reversão recente da inadimplência e a estabilidade do nível de endividamento sinalizam um potencial ainda maior para a expansão do consumo, fator que se transformou, a partir de 2004, na mais importante e relevante mudança recente no mercado brasileiro e que permitiu que o comércio e o varejo se transformassem no maior empregador privado do país.

TAGS - análise;crédito;marcos gouvea de souza;
Os artigos assinados não traduzem a opinião do Instituto Impulso. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre os valores defendidos pelo Instituto e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

DEIXE SEU COMENTÁRIO