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É confiança, a questão por Instituto Impulso

Postando em 17/06/2013

São quatro os fatores fundamentais que determinam a propensão ao consumo e as vendas no varejo: renda, emprego, crédito e confiança do consumidor.

Os dados recentes sobre as vendas do varejo, medidos pela PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) do IBGE mostram que, apesar da melhoria ou estabilidade nos outros componentes, a confiança do consumidor está em patamar mais baixo comparativamente com seu padrão histórico recente e isso é o elemento que mais tem contribuído para o comportamento cauteloso de consumo. O dado de maio mostrou que ela está 10,4% abaixo do mesmo período do ano passado.

A análise da evolução da renda mostra um comportamento real positivo e a estabilidade do nível de emprego, próxima de um patamar quase que de pleno emprego, gera um crescimento positivo da massa salarial, o primeiro elemento importante favorável ao crescimento do consumo e das vendas.

Na questão do crédito houve recuo no nível de inadimplência por conta de consumidores que acertaram suas pendências e um maior nível de cautela com a concessão e cobrança do que foi concedido. As taxas mostram tendência de alta por conta da evolução da taxa básica de juros. O nível de oferta de crédito mantém-se elevado e assim prosseguirá, pois não existem razões objetivas para sua mudança. Ao contrário.

O recente anúncio do programa de estímulo de financiamento de bens duráveis em complemento ao Minha Casa – Minha Vida, em condições de injetar mais de R$ 18 bilhões em financiamentos para todos os segmentos econômicos em taxas subsidiadas deverá aumentar a oferta geral de crédito e criar estímulo adicional ao consumo, assim que começar a ser divulgado e promovido, especialmente pelas próprias redes varejistas.

Onde a coisa está pegando é na confiança do consumidor que vinha declinante desde meados de 2012, estabilizou, com viés de baixa em março e abril e voltou a cair levemente em maio. Esse é verdadeiramente o fator que mais tem interferido no comportamento de consumo e nas vendas do varejo.

As razões desse declínio do Índice de Confiança devem ser buscadas no crescimento da inflação, provavelmente o mais forte elemento, e complementada por um sentimento coletivo de que as coisas já não estão tão positivas como anteriormente, o que mina a percepção no presente e no futuro próximo, os dois elementos que compõem o indicador de confiança do consumidor medido pelo IBRE-FGV.

Importante sempre ressaltar que em boa parte o noticiário policial, político e econômico também compõe o conjunto de fatores que afetam a percepção de confiança, aliados aos elementos de natureza pessoal que incluem o emprego, as dívidas, os compromissos financeiros e a renda.

A criação de estímulos ajuda a melhorar a percepção, principalmente quando os consumidores podem se beneficiar rapidamente, mas o elemento mais importante para a reversão dessa situação é a mudança do sentimento coletivo pela ação inspiradora e coletiva sobre a perspectiva de uma realidade melhor.

E é importante lembrar um momento recente onde esse quadro foi comprovado. No final de 2008 o Brasil havia internalizado a crise financeira e econômica global e a divulgação dos problemas externos dava o tom de todo o noticiário criando um clima de apreensão e preocupação que fez com que o último trimestre daquele ano fosse especialmente difícil para o varejo. Numa atitude quase inconsequente o então presidente Lula passou a desmistificar o tsunami gerado pela crise global, caracterizando como eventual “marolinha” na realidade brasileira.

Associada essa atitude de liderança e inspiração de confiança com estímulos representados pela redução de IPI para diversas categorias de produtos e campanhas destinadas à reversão das expectativas negativas, houve uma mudança sensível do comportamento do mercado e do consumidor a partir do segundo trimestre de 2009, que permitiu uma forte reação de consumo ao longo do ano, que se manteve em 2010, 2011 e 2012. Mas que mostra agora evidentes sinais de esgotamento.

No quadro atual, com expansão real da massa salarial, ainda que em patamares inferiores ao passado recente, e superado o período mais difícil de inadimplência após forte expansão do consumo, o fator chave para uma melhoria do comportamento de vendas no varejo é a inspiração de um cenário mais positivo à frente, o que não é nada fácil, considerado os fatores envolvidos.

A antecipação do processo eleitoral, que desencadeia conflitos e confrontos políticos, o nível de insegurança coletiva, em especial nos grandes centros urbanos, e as manifestações públicas que se espalham e assustam o país, definitivamente, não criam perspectivas positivas para o futuro próximo.  E os índices de confiança a serem divulgados nos meses seguintes (o próximo sairá no dia 24/6) devem retratar essas percepções e colocam novos desafios para o governo, empresas e empresários que dependem de um melhor clima coletivo para seus projetos e negócios.

Momento para colocar as barbas de molho.

Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.

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