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O “definitivo enquanto dure” trava o País por Administrador

Postando em 30/05/2016

No início deste ano, havíamos previsto que o quadro brasileiro seria um drama que se desenrolaria em três atos: o inicial coincidiria com o primeiro trimestre e seria marcado pelas manifestações populares e a disputa política; o segundo deveria terminar às vésperas das Olimpíadas e seu enredo seria baseado nas consequências da recomposição político-econômica, especialmente quando definida a sucessão presidencial de forma definitiva; o terceiro seria marcado por uma distensão no comportamento do consumo e do mercado e poderia sinalizar o início de um ciclo de retomada da confiança e geração de negócios.

 

Com alguns sobressaltos no quadro econômico, por enquanto, o enredo parece seguir a proposta original, embora a decisão definitiva do segundo ato do drama, envolvendo a sucessão presidencial, pode ser esticada até setembro. Até lá, temos uma situação do tipo “definitiva enquanto dure”, que restringe decisões e ações e comprometem a retomada da confiança e a antevisão de uma nova realidade. E isso cria cautelas e preocupações, adiando o que todos anseiam, um necessário e definitivo virar de página e início de um novo ciclo.

 

Com isso, fica agravado o período recessivo pelo aumento de desemprego, a compressão da renda nominal e a cautelosa desconfiança, especialmente pelas naturais dificuldades de montagem do quebra-cabeça que pode viabilizar um grande acordo nacional, alinhando partidos, Governo, políticos e o setor empresarial para o encaminhamento dos temas fundamentais que possam colocar o País no rumo certo.

 

O “definitivo enquanto dure” engessa e paralisa o País comprometendo a inevitável retomada tão logo seja assumida uma nova realidade.

 

Alguns aspectos positivos, porém, já podem ser percebidos e precisam ser valorizados.

 

O primeiro deles é um sentimento claro das lideranças conscientes do País de que as reformas estruturais têm que ser promovidas a partir de agora e não podem ser mais proteladas. Existe consciência e agora a discussão é como evoluir, seguido do sentimento coletivo de que o pior já passou. Na montanha russa que tinha se transformado a política e a economia, já se consegue visualizar o fim dos trechos de constantes sobressaltos.

 

Do lado empresarial, um certo sentimento de alinhamento com o modelo mais cauteloso e conservador de condução da economia que, se ainda não gera investimentos, ao menos reduz a propensão a reduzir ainda mais os negócios e atividades.

 

Outro aspecto importante é o sentimento que o País, ainda que abalado, machucado e parcialmente destruído pelo terremoto que o atingiu, resistiu e sobreviveu em seus macros fundamentos e emerge desse quadro, mais preparado para o futuro, especialmente pelo protagonismo que a Justiça readquiriu no cenário político-institucional, importante para o equilíbrio fundamental de poderes. 

 

No curto prazo, deve também ser considerada a inflação em curva descendente que reduz a deterioração da renda real.

 

Nos aspectos estruturais, fica ainda pendente a revisão estratégica da atuação do setor empresarial, com a visão e a ação necessárias para se posicionar de forma definitiva com um dos pilares fundamentais no processo de criação e sustentação de uma nova realidade.

 

Que esse período dantesco vivido por todos nós, o drama que todos queremos superar e esquecer, possa contribuir para que o setor empresarial brasileiro se dê conta de sua responsabilidade com a construção do País competitivo que precisamos ter e que isso só se fará com seu envolvimento direto e completo.

 

E que o setor empresarial se organize, de uma vez por todas para isso, pois não se pode transigir quando o tema envolve o futuro do País.

 

Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS

 

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