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O primeiro e os próximos trimestres guardam surpresas por Administrador

Postando em 14/04/2014

Os dados oficiais do primeiro trimestre de 2014 no varejo ainda não foram divulgados mas já estão disponíveis diversos estudos e em quase todos existe um sentimento convergente de que o período mostrará relevante crescimento positivo, principalmente por conta do comportamento de janeiro e fevereiro, com desaceleração a partir de meados de março e neste começo de abril.

Esse quadro de desaceleração, a despeito de todo o esforço e do discurso do governo, poderá se manter, ao menos no segundo trimestre pela conjugação de menor número de dias úteis, por conta dos feriados, das paralisações que a Copa suscitará e dos eventuais problemas que podem ocorrer por manifestações populares no período. Objetivamente o Dia dos Namorados, no dia 12 de junho, poderá sofrer forte impacto por coincidir com o jogo inaugural da Copa com outros eventuais desdobramentos.

Ainda que alguns setores devam se beneficiar diretamente do evento, em especial o de eletrônicos, alimentos e bebidas, o clima geral até o momento desperta mais dúvidas do que certezas, em especial quando se comparam os dados de desempenho em mercados como Londres e África do Sul que, impactados por grandes eventos esportivos, só colheram parcialmente algum benefício direto. E não tiveram movimentos populares coincidindo com o evento.

Se no plano macro as variáveis determinantes do comportamento de consumo, como renda, emprego e crédito, considerada oferta de linhas de crédito, inadimplência e endividamento das famílias, apresentem comportamento positivo,  o mesmo não pode ser colocado para o Índice de Confiança, em especial em sua variável de longo prazo, que vem sendo minado pela crescente ampliação do noticiário negativo envolvendo corrupção, desvios de comportamento, incompetência, insegurança e mais os problemas de abastecimento de água em São Paulo.

Mas o mais importante fator desestabilizador é a percepção da expansão da inflação que afeta mais diretamente as classes emergentes, suscitando reações com respeito ao presente e receio na visão do futuro. E esse elemento contribui para um comportamento mais cauteloso de compras, reduzindo a propensão ao consumo.

O resultado será uma inevitável redução de vendas nos bens, especialmente os duráveis e não duráveis não diretamente beneficiados pelo momento, o que deverá gerar aumento dos estoques e, na tentativa de rodar esse inventário, pressão na rentabilidade nas operações. Esse parece ser o cenário predominante para o segundo trimestre.

O comportamento dos dois trimestres finais será fortemente impactado pelo resultado da Copa e os esforços no processo eleitoral, com aumento das acusações e recorrentes cobranças de austeridade, controle, reorientação econômica que, se não atingem diretamente a grande massa consumidora, o fazem pelo comportamento mais aberto ou cauteloso dos líderes empresariais, que acabam determinando o comportamento do país.

Os dados mais recentes das pesquisas mostram uma clara tendência de acirramento de ânimos o que poderá significar um período de total atenção no processo eleitoral e medidas sendo adotadas, ou adiadas, por conta do período. A equivocada tese é que o país real pode esperar e, como sempre acontece, o resultado futuro será pior pelo adiamento de medidas que se impõem em cenários como esses.

A previsão do ano de comportamento de varejo ainda continua na faixa de 4 a 4,5% em termos reais, o que faria que o país estivesse, como nos anos anteriores, entre aqueles cinco com maiores expansões reais do setor.

Se para o próximo ano existe generalizado consenso que o primeiro semestre será fortemente impactado pela adoção de várias medidas de ajuste estrutural, não importa quem leve as eleições, o quadro do curto e médio prazo está cada vez mais delicado.

O futuro próximo está mais incerto e, nesse caso, toda atenção deve ser adotada o que, por si só, já cria uma nova cautelosa realidade que interfere no comportamento da economia como um todo. É tempo de muita reflexão e análise de cenários para definir como se comportar.

 

Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.

 

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