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Perspectivas para 2014 por Administrador

Postando em 14/01/2014

Continuamos no interlúdio entre os últimos atos da Era da Bonança, década encerrada em 2012 e discutida extensivamente por nós ao longo de 2013, e a Nova Era Pós-Bonança, período econômico onde veremos menos frenesi e onde os blocos econômicos deverão crescer e se desenvolver menos em função de seus parceiros comerciais externos e mais em função de seus fundamentos econômicos internos.

Neste sentido, estamos sofrendo um período de transição, principalmente em nossos indicadores externos que têm mostrado uma deterioração forte: primeiramente, em nossa balança comercial e, consequentemente, no nosso saldo de conta corrente, indicador que em última instância representa o “furo de caixa” com o resto do mundo que no ano recém- encerrado deve fechar na casa dos oitenta bilhões de dólares.

Com a recente deterioração das contas externas e somando-se ao grande problema atual e global da expectativa de redução nos estímulos monetários norte-americanos (principal fator de volatilidade da economia global para este ano), toda uma cadeia de canais de transmissão da economia brasileira tem sido afetada de forma negativa.

Nossa taxa de câmbio tem se desvalorizado, sendo mais um canal de pressão inflacionária via custo dos bens importados; índices de inflação e suas expectativas ainda bastante resilientes têm forçado a elevação das taxas de juros por parte do Banco Central, que por sua vez, força as instituições financeiras a elevarem suas taxas cobradas nos empréstimos bancários desestimulando o consumidor em seu ímpeto de compra, que por sua vez, oferece sinais de pé no freio tanto ao comércio quanto à indústria em relação aos seus orçamentos e projeções. Vale ainda acrescentar que depois dos problemas enfrentados pelas instituições financeiras no pós-crise de 2008 com alguns segmentos de crédito, a atual oferta de crédito é na sua maior parte gerada pelas instituições financeiras públicas.

A deterioração do canal externo também representa menos recursos recebidos pelas empresas exportadoras que pagam menos impostos, contratam menos serviços e força de trabalho, afetando assim também a evolução da renda agregada da economia, do nível de receitas do setor público, etc.

Para focarmos no varejo, o principal indicador de influência nos níveis de consumo e nas taxas de crescimento das vendas é representado pela evolução do crescimento da massa de renda das famílias.  A evolução deste indicador do IBGE ao longo da Década da Bonança e agora nos últimos 12 meses é emblemático: a taxa de crescimento médio anual entre 2003 e 2012 foi de 3,8% e, nos últimos 12 meses, roda na casa de 1,8%. Esta redução no crescimento real da massa salarial só não foi maior em função do mercado de trabalho ainda estar bastante aquecido como se pode constatar pelo nível da taxa de desocupação do IBGE.

Uma das razões da redução do ganho real das famílias veio de taxas mensais do IPCA/IBGE no começo de 2013 bastante altas, sinônimo de muita demanda para uma oferta limitada de bens, como explicou Keynes no começo do século passado.

Segundo nossa visão, teremos em 2014 mais da mesma conjuntura econômica de 2013 com exceção de dois eventos importantes e singulares – Copa do Mundo e eleições presidenciais bastante concorridas. A taxa de crescimento da massa de rendimento real deverá ainda se reduzir em 2014, em função principalmente de um reajuste do salário mínimo menor que o de 2013, dado o gatilho por lei que estabelece um reajuste baseado no crescimento do PIB de 2012 (depois da revisão pelo IBGE, de 1%) e o INPC/IBGE dos últimos doze meses que deverá ficar próximo de 5,5%, ou seja, no total um reajuste próximo dos 6,5%. A Copa do Mundo deverá aquecer importantes segmentos do varejo, dentre eles, eletrodomésticos, vestuário, bebidas e foodservice. Difícil, sim, estimar este impacto.  Outro fator contrastante entre 2013 e 2014 está representado pela contribuição do valor adicionado das exportações líquidas que será bastante negativo neste ano e que em 2014 ao menos terá contribuição neutra.

Nossa projeção atual é de que o varejo restrito cresça 4,2% em 2013 e, em função do choque positivo de demanda pela Copa do Mundo, tenhamos um varejo restrito em 2014 crescendo na casa de 4,7% e que também nos induz a acreditar que diferentemente da grande maioria dos analistas do mercado o PIB em 2014 possa também ser superior aos 2,2%, por nós esperado para 2013. A confirmar.

 

Ricardo Meirelles (ricardo.meirelles@gsmd.com.br), sócio-diretor e economista-chefe da GS&MD-Gouvêa de Souza.

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